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terça-feira, 29 de novembro de 2016

A desestruturação do Banco do Brasil sob Temer, o ser necessariamente assim do capital




  Por Estevan Martins de Campos

No último dia 20, o Banco do Brasil anunciou um grande projeto de reestruturação que envolve o fechamento de 402 agências e a transformação de outras 379 em postos de atendimento. O plano elimina ainda com uma série de cargos (gerentes de conta, assistentes), fechamento de setores internos e inclui um plano de antecipação de aposentadoria que pretende tirar do quadro de empregados da empresa pelo menos 9000 pessoas.

Um primeiro olhar, sobretudo daqueles que (assim como eu) fazem oposição ao governo ilegítimo de Temer, poderia indicar como motivo da reestruturação “apenas” essa sede inigualável com que o sem voto tem atacado direitos de trabalhadoras e trabalhadores. Penso que seria uma explicação errada e como diria David Harvey1 (resgatando Marx): “Temos de olhar além das aparências superficiais, se quisermos agir de maneira coerente no mundo: agir em resposta a sinais superficiais e enganadores só produz resultados desastrosos”.
O que entendo ser a aparência neste caso? A seguinte resposta: a reestruturação acontece por causa do governo Temer. Explico.
Essa não é a primeira reestruturação feita no Banco do Brasil. A primeira grande reestruturação aconteceu não só com este banco, mas com todo o sistema bancário e teve duas causas principais: o desenvolvimento tecnológico e sua incorporação no trabalho bancário; e a mudança da política econômica com o Plano Real, que reduziu os índices de inflação no país. O primeiro tem seu impacto mais óbvio, a tecnologia substituiu grande parte do trabalho bancário. A segunda, um pouco menos, a inflação e os altos juros garantiam aos bancos brasileiros uma enorme rentabilidade, com a mudança de cenário, os bancos passaram a buscar outras fontes de lucro para além da intermediação financeira. Isso mudou significativamente o conteúdo do trabalho bancário, surge o bancário-vendedor de produtos. Entre 1989 e 1997 a categoria bancária perdeu quase 50% dos postos de trabalho, de 802 mil para 476 mil empregos no setor.
Com o amplo desemprego no setor e num cenário de privatização de grandes empresas públicas como foi a década de 1990, uma visão se impôs ao Banco do Brasil: o banco deve ser “rentável” ou será privatizado. Na década de 2000, o fantasma da privatização do Banco ficou pra trás, mas a ideia da necessidade de ser “rentável” ganhou cada vez mais força.
Em 2007, no auge do crescimento econômico da era Lula, o Banco lançou outro programa de reestruturação. Na ocasião, houve uma grande centralização de setores internos. Para citar um exemplo, os Núcleos de Apoio aos Negócios de Crédito, que existiam em 24 capitais, foram reduzidos para cinco, o mesmo aconteceu com outros tantos setores. Na rede de agências, houve também uma mudança significativa, com a criação de softwares que substituíam o trabalho humano. Não tinha outro jeito (do ponto de vista da “rentabilidade”), mais um PDV foi promovido pelo banco. Na ocasião, mais de 7000 pessoas saíram da empresa.
A visão de que o Banco precisa ser rentável se aprofundou e em 2014 o Banco do Brasil mudou a “missão” da empresa: “Banco de mercado com espírito público – ser um Banco competitivo e rentável, atuando com espírito público em cada uma de suas ações junto a toda sociedade”. Foi a primeira vez que o banco retirou de sua “missão” a expressão “banco público”.
Os movimentos de reestruturação aconteceram em todos os setores da economia, sobretudo no setor produtivo. A lógica do capital impõe essa dinâmica, é o ser necessariamente assim do capital. Em outro texto, voltaremos a esse resgate de Marx e sua importância para compreender fenômenos como esse. Por hoje, a conclusão necessária é que a visão da rentabilidade como fim, de “banco de mercado”, impõe necessariamente esse tipo de reestruturação. Essa visão de mercado esteve presente nos últimos 20 anos, ininterruptamente. Basta ressaltar que a expressão “banco público” foi apagada ainda no primeiro mandato de Dilma.
A questão que fica é: não só não é suficiente como é errado apontar exclusivamente a sede do atual governo em atender os interesses do capital como a causa da reestruturação. Ela é mais profunda e sobreviveu nos 13 anos do PT à frente do governo, é a visão de que “banco é banco, e deve dar lucro”.

Portanto, ainda que a principal tarefa na atual conjuntura seja lutar pra derrubar o governo ilegítimo, antipopular, corrupto e entreguista de Temer, para tentar resolver as constantes desestruturações do Banco do Brasil temos que ir além, ganhar a luta ideológica na sociedade de que precisamos de um banco que seja público de fato, que atenda o seu papel constitucional de agente econômico do governo, que seja instrumento da política econômica. Precisamos convencer a população de que precisamos de um Banco do Brasil público!

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