Páginas

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sobre minha exoneração do Estado e entrada no Instituto Federal


Após 14 anos, 12 deles como professor efetivo de Ensino Básico do Estado de São Paulo, me exonerei hoje, 01/06, para assumir um cargo de Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de Educação.

Impossível não sentir emoções com a mudança.

Primeiro que o fato de exonerar meu cargo no Estado não me trouxe alegria, como sempre imaginei que traria, mas melancolia. É difícil explicar essa sensação, mas é uma frustração, confesso. Mesmo sabendo que dificilmente o ensino público estadual e a carreira de professor sairão da situação caótica em que se encontram, há sempre a esperança, a luta.

Exonerar é como entregar os pontos.

Ao me exonerar após 14 anos e ver que profissionalmente e pessoalmente/economicamente eu me encontro num estágio inferior ao que eu adentrei, sinal de que a carreira declina, não há como ficar feliz, mesmo que o caminho seguinte seja melhor e mais valorizado.

Saio do Estado com 14 anos, um mestrado, cursos de aperfeiçoamento, quinquênios e tal recebendo líquido, neste mês de maio, exatos 3 mil reais. Um rendimento que mal dá para pagar as contas. Ainda por cima fiz no mês de agosto do ano passado uma 'prova de mérito', na qual fui aprovado, cuja evolução funcional garante aumento de 10% nos rendimentos. Desde agosto aguardo pelos 10% e saio agora com a notícia de que 'não há previsão de pagamento'.

E esta forma de evolução funcional será cortada pelo senhor governador.

É triste constatar que o futuro do ensino público paulista é sombrio.

Pois bem. Ao colocar os pés no campus do Instituto Federal onde vou trabalhar, o professor que me acompanhou nos primeiros reconhecimentos do espaço me confessou: "você está vindo trabalhar numa estrutura maravilhosa, aqui tem tudo o que você precisa para desenvolver um bom trabalho".

Das 40 horas exigidas no regime de dedicação exclusiva, são apenas 12 aulas, o restante é trabalho pedagógico! Além de laboratórios, informática, biblioteca, apoio logístico e um salário que faz jus à importância da profissão docente (bem mais que os 3 mil após 14 anos de serviço).

No Instituto Federal, os docentes são incentivados a fazer doutorado, recebendo para isso.

E olha que esta estrutura, criada por Lula em 2004 para 'interiorizar' a educação técnica e tecnológica (hoje são mais de 400 campi nos mais distantes rincões do país), ainda é algo em construção com muito potencial de crescimento e que pode representar uma verdadeira revolução educacional.

Voltei para casa pensando que essa estrutura corre risco de estagnação. Além do Instituto Federal, Lula também criou a Lei do Piso (na gestão Haddad no MEC). A intenção era estabelecer um parâmetro de qualidade e de carreira profissional para o professor. Uma das propostas era reduzir a quantidade de aulas e aumentar as horas de preparação de aulas, assim como ocorre no IF, fundamental para a qualidade do ensino.

A Lei do Piso está na lista de cortes do interino, assim como as verbas que mantém o IF. O argumento da turma que interinamente assumiu o poder parece que é o de que o Estado é um estorvo a ser removido da frente do 'mercado'.

Há muita luta pela frente.

Ainda no caminho de volta me lembrei de tantos amigos professores que amam a profissão, que se esforçam para dar conta de uma jornada estafante sem apoio quase nenhum. Nestes 14 anos de Estado jamais vi um deles realmente feliz com a carreira. O que vi foi apenas luta, frustração, cansaço e, o pior de tudo, conformação.

Para os lutadores que ficam, quem sabe um dia possam recepcionar um novato com as palavras que meu novo colega me recepcionou: "você está vindo trabalhar numa estrutura maravilhosa, aqui tem tudo o que você precisa para desenvolver um bom trabalho".

E que o Instituto Federal de Educação continue sendo a esperança de revolução educacional levada aos quatro cantos do país.

Ricardo Jimenez

9 comentários:

Luiz Octávio disse...

Parabéns, Ricardo. Tenho certeza de que o Instituto Federal ganhou um excelente e dedicado professor. Espero que você se realize completamente nesta nova fase de sua vida. Felicidades e um grande abraço.

O Calçadão disse...

Muito obrigado, seu Luiz!!

Unknown disse...

Parabéns!!!! Ser professor e lutar pelo ensino público, quer seja na esfera federal, estadual ou municipal! Estaremos juntos. Na luta. Cada um em um campo mas com o mesmo objetivo!!! Muito sucesso e tudo de melhor!!!

Cláudia disse...

Parabéns, Ricardo, você merece. Abraços

Cláudia disse...

Imagino como se sente, também estou saindo do ensino público estadual, mas porque estou nele desde 1987. Fico pensando como será a educação paulista nos anos que se seguirao e também sinto uma sensação estranha ao pensar em como essa mesma educação no estado veio se deteriorando ao longo, principalmente, desses últimos 20 anos...um estado tão rico que menospreza seus jovens e seus educadores. Boa sorte, meu amigo, a luta de um professor, em qualquer área ou estabelecimento, não finda. Nunca.

Andrea Lopes disse...

Ricardo
Parabéns! Fico contente que deu tudo certo! Seja bem vindo ao IFSP, e com certeza iniciará uma etapa de desenvolvimento de grandes projetos..Abraços. ...Andrea Lopes

Unknown disse...

PARABENS RICARDO EM SUA NOVA EMPREITADA, E EVOLUIR MESMO QUE SEJA EM OUTRO ESPAÇO É MUITO BOM PARABENS MEU QUERIDO....



4


Jean_Marques disse...

Ótima reflexão. O texto serviu para que eu pudesse sistematizar os conflitos que tenho quanto a educação paulista.

José Alfredo Carvalho disse...

O Estado perdeu... Parabéns meu companheiro de lutas!!!

Ministro Flávio Dino pede vistas em ADPF que suspende decisão do TST sobre recreio dos professores

  TST reconheceu recreio como parte da jornada de trabalho dos professores