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quinta-feira, 12 de maio de 2016

Cale-me que gritarei mais alto! Por Tico Mendes





Foi aprovada no estado de Alagoas esse ano a lei que proíbe os professores de opinar sobre ideologia, política e religião, chamada de "Escola Livre", sob pena de punição e até mesmo demissão.
Na condição de estudante secundarista e vice-presidente do grêmio estudantil, considero essa lei uma afronta, pois fere a constituição brasileira e me faz lembrar o período ditatorial no Brasil, onde havia censura e perseguição à todas as vozes que se erguiam contra o regime.
Se a lei for aplicada na íntegra, não sobrará muito conteúdo para os professores ensinarem. Várias disciplinas seriam alijadas porque sua essência está na área da política e do comportamento social. Entendo que o verdadeiro intuito dessa lei é de fragilizar quem tem mais poder para levar as pessoas a pensarem. Quem mais sofre com essa lei são os docentes de história, geografia, filosofia e sociologia.
A experiência que tive como aluno do ensino fundamental é a de ter tido professores conservadores. Tínhamos aula de religião, mas sempre voltada ao cristianismo, e nem estudava em uma escola confessional e sim do estado. Ao invés de tratarem a religião num sentido mais amplo como, por exemplo, para ensinar a origem dos conflitos entre vários povos, como os do Oriente Médio, tentavam nos catequizar.
Acho interessante os políticos nunca se preocuparem com relação a isso. Ou seja, esse tipo de doutrinação pode. Por que será? Acredito que seja pelo fato dela nos tornar mais resignados. Curso agora o terceiro ano do ensino médio em uma época em que as pessoas estão cada vez mais críticas. O Brasil passa por uma ebulição social e é justamente nesse momento que os políticos ligados às bancadas super-conservadoras, e representando acima de tudo a si própria, começam a temer os professores mais críticos e bem preparados, considerando estes como adversários.
Com tanto ativismo social surgido nos últimos tempos, esses políticos estão com receio de perder seu poder. O discurso desses deputados é de que os professores podem colocar os alunos em uma prisão mental, por estarem mais alinhados à esquerda. Esquecem, no entanto, que o verdadeiro papel do professor é ensinar os alunos a serem cidadãos mais críticos, questionadores. Ajudá-los a ter olhos para ver além do que é imposto à sociedade pela mídia que aí está, totalmente parcial e manipuladora. Questionar também os políticos, a escola, a grade curricular, os abusos das empresas, mídia etc. Políticos dessa espécie querem nos fazer pensar que querem aprisionar nossas mentes são os professores mais atuantes e questionadores do modelo político e social brasileiro atual, mas na verdade é justamente o contrário.
Querem calar a voz de quem tem muito a dizer e nos fazer crer que não passam de esquerdistas ultrapassados a fazerem mal a comunidade escolar por deixarem de ensinar para pregar suas ideologias políticas. No entanto, o que esses professores têm a dizer deve ser muito levado em consideração, pois o que ensinam é o que foi aprendido por meio de anos de estudos nos bancos das universidades ao lerem, relerem, de debaterem e estudarem clássicos da literatura das ciências sociais.
Termino esse artigo com uma famosa frase de Alejando Jodorowsky, que serve para refletirmos a respeito do que esse tipo de político quer fazer conosco: "Pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é uma doença".

Tico Mendes é estudante secundarista da Escola Cid de Oliveira Leite

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