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sexta-feira, 25 de março de 2016

Sexta-Feira Santa. Por Padre Chico Vanneron

Conspiração do Sinédrio - James Tissot

Sexta-feira Santa          

TODA COMPARAÇÃO COM A CONJUNTURA POLÍTICA ATUAL VIVENCIADA NESTES SOMBRIOS DIAS BRASILEIROS = MERA COINCIDÊNCIA!


Quando nós católicos nas celebrações litúrgicas rezamos a profissão de fé, costumamos dizer que Jesus “padeceu sob Póncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”.

Mesmo que a morte de Jesus possa ser comprovada historicamente, é lícito perguntar: Quem foi o responsável?

No passado, e continua assim no presente, muita gente comete grande injustiça, afirmando que foi o POVO judeu que matou o Filho Unigênito de Deus!

Lendo atentamente o evangelho de João, é possível ver melhor essa questão. Antes, porém, é preciso ver outra coisa. Na verdade, por muito tempo se pensou que o Pai celeste tivesse desejado a morte dele. Em poucas palavras, se afirmava que Deus QUIS que seu Filho morresse. Entretanto, quem pensa dessa forma dificilmente consegue fazer uma síntese entre o Deus da vida e o Deus que planeja e quer a morte do Filho. É melhor, portanto, seguir outro caminho, a saber: a morte de Jesus é fruto de uma armação montada pelos poderosos daquele tempo!

Vamos então aprofundar, começando pela constatação que desde o início, primeiro capítulo versículo 5, João mostra um conflito, afirmando: “Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguem apagá-la”. A luz é Jesus. As trevas são as pessoas que o mataram. Mas não conseguiram apagar a luz, pois Jesus ressuscitou!

Alguns capítulos adiante, o evangelista mostra que as trevas já tinham tomado a decisão de eliminar a luz. Vejamos no quinto capítulo, versículo 18: “As autoridades dos judeus tinham mais vontade ainda de matar Jesus, porque, além de violar a lei do sábado, chegava a dizer que Deus era seu Pai, fazendo-se igual a Ele”. Duas coisas devem ser ditas a respeito dessa afirmação:
1)     Aparece um grupo com vontade de acabar com ele e esse desejo se torna mais intenso à medida que avançamos no evangelho.
2)     Trata-se de definir quem pertence a esse grupo. A exegese pertinente mostra que são as lideranças políticas, econômicas e religiosas dos judeus. Aliás, contemplando os capítulos 18 e 19 chegamos à conclusão de que o povo foi o grande ausente no processo condenatório.




Mais claramente aparecem os responsáveis em João 7,45: “Os guardas do Templo foram para onde estavam os chefes dos sacerdotes e fariseus. E estes perguntaram: ‘Por que vocês não trouxeram Jesus?’ ”. CHEFES DOS SACERDOTES e FARISEUS eram dois grupos importantes que possuíam soldados (quer dizer, polícia) à sua disposição, sendo membros do SINÈDRIO que era o Supremo Tribunal daquela época.

Os Romanos que dominavam a Palestina permitiram que o Sinédrio continuasse a exercer seu papel, mas impuseram-no duas condições:
a)     a primeira dizia respeito ao cargo do SUMO SACERDOTE, o presidente que representava a autoridade máxima dos judeus: a função não seria mais hereditária como antes, pois o império estrangeiro nomearia quem lhe parecesse mais conivente;
b)    a segunda referia-se à PENA DE MORTE que o Sinédrio não poderia mais decretar já que precisaria em diante da autorização do governador;

Fica claro, portanto, o que ocorreu com Jesus. Sua prática a favor da vida PARA TODOS incomodava a quem cabia no termo ‘trevas’ de São João. Todavia, o tribunal dos judeus não tinha mais autoridade de entregá-lo à pena capital e por isso fez de tudo para pôr Pilatos contra a parede. De fato, a estocada derradeira foi colocá-lo diante dum dilema fazendo com que estivesse correndo o risco de perder seu poder. Capítulo 19, versículo 12: “Se você soltar esse homem, você não é amigo de César. Todo aquele que pretende ser rei, se coloca contra César”. O governador está num beco sem saída: não quer condenar Jesus; porém se não o fizer, será denunciado ao imperador César e, por causa disso, perderá seu mandato. Consequentemente concede que Jesus seja morto!

Meus irmãos e minhas irmãs,
Resumindo podemos afirmar que foram os poderosos que assassinaram Jesus. Souberam encurralar Pilatos de modo que deu a sentença a favor da crucificação. O povo, por assim dizer, em quase nada participou! A morte do nosso Salvador foi resultado dum ÓDIO VIOLENTO DA PARTE DA ELITE, não querendo ceder a uma sociedade com dignidade e bem-estar igualitários para todo mundo!

E a pergunta final que não quer calar: Se Jesus voltasse à terra, por quem seria morto novamente? Provavelmente pelos mesmos detentores do poder. Por isso, na hora de venerar a cruz questione-se: COM A MINHA CUMPLICIDADE, SIM OU NÃO? EU ME OMITINDO OU FAZENDO A MINHA PARTE PARA QUE A SOCIEDADE SE TRANSFORME, PARA QUE A HUMANIDADE SE REGENERE?

Padre Chico é pároco da Igreja Santa Terezinha do Menino Jesus e Capelão dos movimentos sociais de Ribeirão Preto e do blog O Calçadão

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