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quinta-feira, 2 de julho de 2015

REDUÇÃO DA MENORIDADE PENAL E OS DIREITOS HUMANOS


Ontem, na calada da noite, em uma “pedalada regimentar” promovida por sua excelência Eduardo Cunha (PMDB -RJ), foi aprovada a PEC 171/93. O que isso implica para a sociedade? É algo bom?

A redução da menoridade penal implica tratar os adolescentes como meios e não como fins em si mesmo. Meios para garantir uma pseudo sensação de segurança. Isso porque se atribuiu a eles a responsabilidade pelo aumento da violência no Brasil. O PIG tem se empenhado em (des)construir uma imagem dos adolescentes negros e pobres transformando-os em cavaleiros do apocalipse burguês. O que não se mostra é que a violência praticada por menores não corresponde a 1% dos crimes hediondos ocorrido em todo nosso país.

Outro ponto importante, é que essa redução abre portas para precarização da educação. Pois, a partir do momento em que os jovens são imputáveis eles ficam fora da prerrogativa legal da obrigatoriedade do ensino. Dessa maneira, cria-se uma forma de exclusão cultural que conduz os jovens desvalidos para além da margem social. Em outras palavras, cria-se uma exclusão social mais ampla com respaldo legal.

Além das consequências sociais, jurídicas e políticas que, a meu ver não são, nem de longe, boas para o Brasil, temos as consequências filosóficas e humanas. Pois ao negar direitos (saúde, educação, lazer, emprego) aos adolescentes, nega-se a própria dignidade humana existente em cada um dos jovens. O argumento de que os adolescentes infratores devem “pagar o preço pelos seus atos” esconde já uma visão do ser humano como meio e não como fim. O filósofo alemão Immanuel Kant já disse que “… [Tudo] tem ou um preço ou uma dignidade. O que tem um preço pode ser substituído por outra coisa equivalente; de outro modo, o que se encontra sobre todo o preço e, portanto, não admite equivalente, possui dignidade. (Kant, 2003. p 74 (4:434) – obras completas em alemão). Se eles tem que pagar o preço já se entende que a humanidade inerente nos jovens já não é levada em conta. Nem no jovem infrator e nem na vítima. O desprezo da humanidade em qualquer indivíduo humano do planeta é desprezo à toda humanidade.

Não se pode falar em direitos humanos quando eles são negados. A redução da menoridade penal no Brasil é a negação desses direitos àqueles que deveriam ser os primeiros a serem protegidos pelo Estado. Com isso se reduz a corresponsabilidade governamental de garantir o pleno desenvolvimento e delega-se à sorte na vida o desenvolvimento cidadão, pessoal, cultural e psicológico dos jovens.


Em resumo, é mais fácil prender um jovem que não é obrigado a votar do que um adulto que vota.



Fabio Soma - Filósofo e Pedagogo

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