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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Frei Beto, Maria Rita Khel e Marcelo Botosso: a ignorância e a boçalidade não passarão!








Essa semana que passou ocorreu em Ribeirão Preto a 15o Feira do Livro. Um dos pontos mais interessantes da Feira é o ciclo de palestras com figuras convidadas, dos mais diferentes ramos.

Fui assistir à palestra de Maria Rita Khel, que dissertaria sobre sua experiência na Comissão Nacional da Verdade. Senti o clima tenso desde o princípio, pois Ribeirão não foge à regra dos dias atuais de xingamentos, ignorância e intolerância. Sabia de antemão que na palestra de Frei Beto o mesmo teve que bradar firmemente contra alguém que o interpelou defendendo a ditadura militar, repetindo algumas vezes: "Democracia, sim. Ditadura, não!".

A palestra de Maria Rita transcorreu com mais calma, mas o desenrolar dos temas abordados como MST, golpe de 64, estrutura injusta e violenta do latifúndio, a agressão aos índios durante a ditadura e a triste realidade dos desaparecidos mesmo após os trabalhos da Comissão da Verdade ia aos poucos causando a saída de algumas dezenas de pessoas.

Em certo momento, ao tratar sobre a importância da reforma agrária, Maria Rita foi aplaudida e não conseguiu conter seu alívio: "Que bom saber que aqui tem gente do meu lado", desabafou.

O desabafo da ilustre palestrante mostra bem o clima atual, onde ignorantes e bandidos (de pseudo-religiosos a parlamentares ignóbeis) se misturam no fomento de um novo clima de "caça aos comunistas". Um marcartismo dos acéfalos e dos canalhas.

Sem mais disfarce, a turba boçal investe contra qualquer um que seja identificado como "esquerdista". Defendem a volta da ditadura militar (que é crime!) sem cerimônias e desrespeitam a memória das centenas de mortos pelo terrorismo de Estado e que ainda não foram encontrados.

Que o diga o Historiador do Museu da cidade de Salto/SP, Marcelo Botosso. Ao propor o debate sobre os anos de chumbo com a apresentação do projeto Lugares de Memória, desenvolvido em parceria com o Memorial da Resistência de São Paulo (ilustrado na imagem abaixo), Botosso se tornou a mais nova vítima da boçalidade.


Como Historiador concursado e cumprindo as atribuições de seu cargo, Botosso nada tem a temer, pelo contrário, tem muito a ganhar sabendo enfrentar com altivez e competência essa ameaça de coação às suas funções.

O primeiro passo realizado foi a formalização de um boletim de ocorrência na polícia e a busca de apoio por seus superiores hierárquicos, para que garantam na forma da lei o exercício das atribuições de seu cargo.

Não podemos mais tolerar atitudes como essa.

Nos momentos mais obscuros da história nacional, a luz se fez a partir da luta dos corajosos e dos dignos. É assim que se faz. A democracia é uma conquista valiosa e deve ser defendida.

Que o Museu da Cidade de Salto e seu Historiador continuem com total liberdade para propor e realizar debates sobre a nossa história e que tenham o direito à expressão garantidos, como tiveram Frei Beto e Maria Rita na Feira do Livro de Ribeirão Preto.

Não à ignorância, não à tentativa de coação, não à boçalidade. Sim à democracia!

Equipe O Calçadão

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