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sexta-feira, 20 de março de 2015

Dilma, acerte a cozinha e siga em frente!



No futebol, quando uma equipe passa por uma crise ou começa um jogo tomando dois gols, a primeira preocupação, no jargão futebolístico, é "arrumar a cozinha". Que significa estancar a sangria e arrumar as coisas para que se possa seguir em frente replanejando e retomando os passos.

Dilma venceu uma eleição dificílima, não só pelo peso que a mídia jogou no processo, mas pela própria dificuldade de passar para a população a mensagem de que um governo que já tem 12 anos poderia continuar representando as mudanças necessárias para manter e aprofundar as conquistas dos últimos anos.

Apesar do desgaste pelas denúncias de corrupção e do vazamento seletivo realizado pela mídia em conluio com certos investigadores, não foi o caso Petrobrás que fez Dilma e o governo perderem prestígio tão rapidamente da eleição para cá. A Petrobrás foi martelada na campanha inteira e, mesmo assim, Dilma venceu.

O que dilapidou a popularidade da Presidente foi ter empurrado goela abaixo das pessoas, principalmente de seus eleitores, um pacote de "ajuste fiscal" açodado e intempestivo. O novo Ministro da Fazenda assumiu com uma arrogância ímpar, não tendo nem mesmo a delicadeza de poupar seu antecessor Mantega (que assumiu a defesa do emprego e da renda e segurou o rojão corajosamente durante a campanha). Com Levy, Dilma acabou passando a impressão que, passada a eleição, realizou as mesmas medidas que havia jogado na cara de seu adversário nos debates.

Enquanto o golpismo permaneceu aceso, com a estrutura da parceria mídia-tucanato, os eleitores de Dilma foram tomados por uma apatia e frustração sem igual. A impressão que deu foi a de um governo inexistente para reagir à onda golpista, mas muito bem equipado para vir para cima da classe trabalhadora. O jogo inicial dilmista esvaziou seu estádio e empolgou o adversário.

Dilma deu filé mignon aos urubus. Nem mesmo seu Ministério, montado com objetivo de trabalhar  em harmonia com o Congresso, foi capaz de entregar o prometido. Pelo contrário, todo o clima de denúncias e a apatia do governo só geraram crises, aprofundadas com a eleição de Eduardo Cunha para a Câmara.

O primeiro passo para "arrumar a cozinha" é acertar a zaga e a cabeça de área. Dilma tem zagueiros fracos. Aliás, Mercadante não é zagueiro, ele é muito mais um atacante inimigo na sua área doido para fazer unzinho contra. Cardozão é um zagueiro lento e que treme diante do centro-avante inimigo. Na cabeça de área não tem ninguém.

A primeira arrumação deve ser na equipe próxima, por isso a importância de uma reforma ministerial imediata. Depois é preciso focar o Congresso. 2014 construiu um Congresso conservador e afeito ao "toma lá da cá". Não importa. Joga-se o jogo jogado. Acertar a relação com o Congresso significa poder governar. Faça-se.

Cid Gomes, na sua saída apoteótica do governo, disse: Dilma tem as mãos limpas! É isso. Dilma tem as mãos limpas. Não entendo como isso ainda não foi explorado à exaustão pelo governo. 

Dilma assumiu o governo em 2010 substituindo o presidente mais bem avaliado da história, herdou problemas de fundo na Petrobrás. É bom lembrar que sobrou para Dilma o passivo dos diretores corruptos e o ódio da mídia-tucanato pela nacionalização do pré-sal. Mas a Presidente governou, enfrentou a corrupção, gerou e defendeu os empregos, assumiu desafios e manteve a cabeça erguida e as mãos limpas.

A agenda política está colocada: reforma política e combate à corrupção. Teto nas campanhas eleitorais e restrição ou proibição de doações empresariais. Jogue-se o jogo. É preciso entrar em contato com os manifestantes do contra que ainda são capazes de argumentar e trazê-los para o debate dessa agenda, isolando no golpismo os setores mais reacionários próximos de Aécio.

Aliás, com Aécio deve-se lidar a partir de três premissas: lista de furnas, derrota em Minas e "aceita que dói menos".

Dilma tem um mandato inteiro para governar. Até o meio de 2016 estarão inauguradas mais de 80% das obras de infra-estrutura. Mesmo a alta do dólar pode contribuir para melhorar as exportações, dando um respiro nas contas externas no médio prazo, impulsionando investimentos e diminuindo os efeitos do ajuste.

Reverter os 60% de ruim e péssimo será tarefa complicada, mas não impossível. Afinal, tem 54 milhões de brasileiros esperando para ver governando aquela Dilma que eles viram debatendo na época da campanha. Governar para quem acredita que emprego e renda são as coisas mais importantes.

Golpe, "nem que a vaca tussa".

Ricardo Jimenez

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