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terça-feira, 17 de março de 2015

A mídia e o Brasil: sempre uma questão de Estado!



A disputa pela comunicação sempre esteve atrelada à disputa pelo poder político. Não é por acaso que na História do Brasil, e do mundo, sempre que há uma disputa de poder político há ataques aos meios de comunicação opositores e valorização dos meios de comunicação apoiadores do novo governo ou regime que se estabelece.

Você conhece a história da mídia no Brasil?

Bem, as disputas começaram de fato a acontecer junto à construção de uma estrutura de Estado mais robusta, onde a comunicação de massa passou a se tornar imprescindível à disputa pelo poder político. Os grandes conglomerados de comunicação se iniciaram nos anos 30 e 40, na chamada "Era Vargas".

O primeiro grande empresário da comunicação foi Assis Chateaubriand, o Chatô, que construiu seu império em meio às negociatas com empresários e políticos do Estado Novo varguista. O seu Diários Associados tinha, entre dezenas de jornais e rádios, a TV TUPI. Enquanto Chatô construía seu império, um outro empresário tocava o pequeno jornal O Globo herdado do pai, no Rio de Janeiro. Mais tarde esse empresário seria um substituto muitíssimo mais poderoso que Chatô.

Foi a partir do governo Vargas, entre 1950 e 1954, que a coisa pegou fogo e se colocaram claramente em conflito dois projetos distintos de país: o nacionalismo Trabalhista de Vargas e o entreguismo elitista da UDN e de setores predominantes das Forças Armadas. No meio disso estava a mídia. 

Essa disputa de projeto de país está colocada até hoje.

Vargas plantou entre 50 e 54 uma semente que iria se confrontar com o golpismo até 1970, ajudando o Trabalhismo a ter força para enfrentar, na comunicação, um inimigo cada vez mais poderoso. Vargas sabia que ou um governo se comunica ou está fadado a ser derrotado. Nos anos 50, se viabilizaram o jornal "Última Hora" de Samuel Wainer, a rádio Mayrinck Veiga e a TV Excelsior ( do empresário paulista Vítor Costa, dono da TV Paulista e do empresário Mário Wallace Simonsen, dono da companhia aérea Panair).

Em 1970, no auge da ditadura, todos esses veículos de mídia de viés nacionalista estavam falidos, enquanto as Organizações Globo caminhavam para a formação de um império de comunicação.

Conseguem enxergar que a disputa pela mídia sempre foi uma questão de Estado?

De todas as histórias, a mais emblemática é a história da TV Excelsior. Foi a primeira televisão a transmitir em cores, fez os mais importantes programas jornalísticos e humorísticos dos anos 50 e 60, mas não resistiu ao poder de perseguição da ditadura. A história em detalhes está AQUI e AQUI, mas tudo começou quando Simonsen defendeu a legalidade do governo João Goulart e desafiou o golpismo de 64. A partir daí foi perseguido e viu não só sua televisão ir à falência, como também a sua companhia aérea, a Panair, substituída pela Varig, cujos investimentos foram facilitados pela ditadura.

Dos 25 anos de ditadura militar, e com um brutal investimento da americana Time-Life (aqui), surgiu um império que domina mais de 80% da comunicação no país. Quando Antônio Carlos Magalhães se tornou Ministro da Comunicação no governo Sarney, ele foi responsável por concluir o tamanho do monstro, distribuindo concessões de rádio e TV entre políticos apoiadores do sistema e dando para ao monopólio de mídia o controle da esmagadora maioria das retransmissoras de rádio e TV pelo país a fora.

Leonel Brizola, o mais combativo herdeiro do Trabalhismo, denunciava esse acordo com a Time-Life e, por isso, dizia abertamente que, se eleito Presidente, cassaria a concessão pública da emissora. Brizola sabia, porque sentiu na própria pele quando governador do Rio, que sem enfrentar o poder da mídia monopolizada, e da Globo, nenhum projeto nacional democrático poderia ser implantado de maneira livre.

Depois das manifestações de domingo (uma micareta que juntou da extrema direita aos recalcados eleitores do Aécio) transmitidas ao vivo pelo canal, essa realidade não pode mais ser camuflada por aqueles que lutam pela continuidade e aprofundamento das políticas nacionalistas e inclusivas surgidas desde 2003, quando Lula venceu pela primeira vez o conluio Globo-tucanato.

São décadas de poder, omissões, mentiras, manipulações. A mídia fez coro com FHC quando esse, do alto de sua arrogância boçal, declarou que iria "acabar com a era Vargas". A mídia compactuou com o crime da venda da Vale do Rio Doce, compactuou com a quebra do monopólio do petróleo, com todo o descalabro das privatizações. a mídia é contra o regime de partilha no pré-sal.

A mídia se utiliza dos discurso falso moralista da corrupção para na verdade exercer influência política e ampliar a crise contra governos com os quais não concorda. O combate da mídia não é contra a corrupção, até porque ela é sócia do tucanato, mas é contra um projeto de país. A mídia é contra a soberania popular e a inclusão social.

Qualquer grupo de cidadãos que queira interferir no processo político do país deve fazê-lo em um partido político, disputando votos. Fazer interferência política se utilizando de uma concessão pública não é democrático. O povo brasileiro tem o direito de ter um acesso livre à informação e não pode ser refém de um monopólio de mídia. 

No mundo todo a mídia é democratizada. É inconcebível em um país desenvolvido a existência de um monopólio desse tipo.

A saída da atualidade é a internet, mas ainda é uma saída efêmera, em crescimento. É preciso uma política de Estado que promova a democratização dos meios de comunicação.

A democratização da mídia é junto com a reforma política (e a proibição do financiamento empresarial) a principal agenda da disputa política atual. Somente com pressão o governo pode ter a coragem necessária para tomar as decisões que devem ser tomadas.

Ricardo Jimenez

Um comentário:

ANTONIO CARLOS disse...

Como faz falta um Leonel Brizola nos dias de hoje.

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